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quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Epidemia de aids não terá fim sem ações direcionadas, diz OMS

Jornal do Comércio - 23/07/2018 

(https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/geral/2018/07/639737-epidemia-de-aids-nao-tera-fim-sem-acoes-direcionadas-diz-oms.html)

Agência Brasil 

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse nesta segunda-feira (23) que a epidemia de HIV no mundo não terá fim sem que haja políticas direcionadas para as chamadas populações-chave, sobretudo gays, homens que fazem sexo com homens, trabalhadores do sexo, usuários de drogas e população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais e transgêneros).  

"A melhor forma de abordar todo o espectro de suas necessidades de saúde é por meio de sistemas de saúde fortes baseados numa atenção primária centrada nas pessoas e que seja direcionada para alcançar saúde para todos", publicou Tedros em seu perfil na rede social Twitter. 

O diretor-geral da OMS participa nesta segunda da cerimônia de abertura da 22ª Conferência Internacional sobre Aids, que ocorre até a próxima sexta-feira (27) em Amsterdã, na Holanda. O encontro é considerado o maior do mundo sobre o tema e deve reunir especialistas em ciência, direitos humanos e defesa dos interesses de quem vive com HIV. 

O tema deste ano é Quebrando Barreiras, Construindo Pontes. A proposta é chamar a atenção para desafios como estigma, preconceito e outros problemas enfrentados por quem vive com o vírus em algumas partes do mundo, incluindo populações-chave do leste europeu e da Ásia Central, assim como do Oriente Médio e do Norte da África.  

Dados da OMS revelam que homens que fazem sexo com homens, trabalhadores do sexo, pessoas transexuais, usuários de drogas e pessoas encarceradas respondem por 40% das novas infecções por HIV registradas em 2016.


Jornal do Comércio (https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/geral/2018/07/639737-epidemia-de-aids-nao-tera-fim-sem-acoes-direcionadas-diz-oms.html)

domingo, 18 de agosto de 2019

Viver e amar com HIV há 25 anos: 'O vírus não mata o desejo'

Eliane Trindade para FSP, 16.07.19

Consultora e ativista, Silvia Almeida relata sua trajetória de mulher soropositiva na luta contra o estigma da Aids

Ela aprendeu a viver com HIV. E a amar, a não julgar e a encarar a epidemia de Aids sem grandes dramas.

Há 25 anos, Silvia Almeida foi diagnosticada com o vírus. Em 1997, seu marido e pai de seus dois filhos, então com 14 e 4 anos, morria de Aids.

A então viúva transformou a herança maldita em luta e aprendizado.

Silvia fez mais do que sobreviver aos preconceitos, estigmas e medos que cercam a doença que afeta mais 860 mil brasileiros e 37 milhões de pessoas no mundo.

A hoje consultora da Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/ Aids) e integrante do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas lista sete lições de sua longa e inspiradora trajetória de mulher soropositiva.

“Eu tenho 55 anos. Descobri que sou soropositiva aos 30 anos. São 25 anos desde o diagnóstico. Daqui a pouco eu vou ter mais idade com HIV do que sem.”
Não se trata de “sobrevida”, palavra que ela detesta, usada no começo da epidemia quando Aids era sentença de morte.

“É vida, com qualidade e em plenitude”, diz. Silvia se considera saudável, portadora de uma doença crônica e sob controle, graças aos avanços da ciência.

Condições que lhe permitiram trabalhar até se aposentar por tempo de serviço, casar novamente, retomar a vida sexual sem riscos, curtir filhos e netos. Tudo isso com a certeza de que tem ainda muito para viver.

ACEITAR
“Meu marido morreu de Aids. Ele foi diagnosticado já doente, esse era o grande problema. Devia ter muito tempo de HIV.

Estava desenvolvendo Aids [teve uma série de doenças oportunistas em razão da perda do sistema imunológico e faleceu em decorrência de uma tuberculose] e partiu em dois anos. 

Recebi o resultado do meu teste em abril de 1994.  Tinha certeza de que ia ser positivo, apesar de não estar doente. Não usava camisinha. Ele estava doente, ia estar infectada também. Em um casamento de 14 anos, não se usa preservativo.

Era o começo da epidemia entre as mulheres, a gente começava a descobrir o que era uma transmissão sexual, que não existia grupo de riscos.

Todos estávamos vulneráveis. Mudavam os conceitos da epidemia.

Minha angústia foi esperar o resultado do exame do meu filho, que tinha um ano. A minha preocupação era com ele, de transmissão vertical [de mãe para filho]. Para meu grande alívio, ele não se infectou.

Eu tive parto normal, quando a criança tem contato com o seu sangue na hora do nascimento. Amamentei. Fiz tudo errado, porque eu não sabia.

Hoje, você tem exames e protocolos que testam antes e durante a gravidez; na hora do parto. Se são seguidos nenhuma criança precisa mais ser infectada. Penso que não era para meu filho ter HIV. Sou espiritualizada, acredito em destinos.

Eu resolvi que primeiro eu ia entender o HIV, aprender a viver com o vírus para depois poder falar sobre isso. Ao passo que fui melhorando, fazendo tratamento, ficando bem, sem aquele drama, aquele medo, consegui ir contando para os meus filhos e familiares.

Quando fui contar, levei para eles tranquilidade pela forma como eu já lidava com o HIV.

Faço tratamento? Faço. Tem cura? Não tem. Estou conseguindo viver apesar de tudo? Estou. Estou feliz? Estou. Estou saudável? Estou. Tudo isso faz diferença.

Quando você dá uma notícia ruim sem ter um mínimo de resolução, é muito complicado. Quando apresenta um problema que está sendo resolvido, é diferente.”

NÃO CRIMINALIZAR
“Acho muito doloroso pegar alguém que você amou e dividiu sua vida e criminalizar essa pessoa.  

Ela pode não saber, como pode saber, que é soropositivo.  Pode confiar que não vai infectar o parceiro. Pode não contar por necessidade de ter alguém, por medo da solidão e da rejeição.

Enfim, o ser humano é muito diverso. Dentro dessa diversidade, você encontra de tudo. Pessoas fortes, como eu, que já chegam no primeiro encontro e diz que tem HIV. Mas tem pessoas que nunca vão conseguir contar.

A notícia cai como uma bomba dentro de casa. Fica aquela pergunta: Onde erramos? O que aconteceu? De onde veio? Por que veio?
Sinceramente, são perguntas sem respostas. 

Quando perguntei para meu marido o que tinha acontecido, ele me olhou e disse: ‘Eu não sei. Estou tão perdido quanto você’.
Ali, senti o que era o HIV e o que era Aids. As pessoas se infectam porque são vulneráveis.

Essa vulnerabilidade vem da nossa forma de viver a sexualidade. Muitas vezes o homem é criado nesse padrão machista que dava direito a ele de ter um caso extraconjugal.

Conheci muitas mulheres que se separaram, que odiaram seus companheiros, quando descobriram terem sido infectadas por eles.

Não consegui odiar o homem que eu amava. Consegui enxergar nele uma vítima, assim como eu. Ele não ia ver nossos filhos crescerem. Ele não conheceu os netos.

Ninguém infecta ninguém porque quer e muito menos infecta sabendo que a pessoa ia sofrer tudo que a Aids causava naquele momento. 

Querer saber quem te infectou ou culpar a pessoa tem muito a ver com a não aceitação. De colocar no outro a responsabilidade que é sua.

Se olharmos para trás, há 30 anos, quem tinha consciê ncia de HIV, do uso de preservativo?

Hoje pode-se cobrar mais. Cobrar o uso de preservativo, de relação desprotegida. O teste está aí, é rápido. Tem muito mais informação.” 

VIVER
“Logo depois do diagnóstico, comecei a procurar alguma coisa que me ensinasse a viver com o HIV. Acabei conhecendo o GIV (Grupo de Incentivo à Vida). Ao frequentar as reuniões, aquilo foi tomando uma proporção grande. Via quantas mulheres sofriam, quantas pessoas eram despedidas de seus empregos. Era muito estigmatizante.

Fui aprendendo o quanto a gente não sabia nada, o quanto as pessoas sofriam por conta deste não saber.

Fui retomando minha vida conforme entendia o HIV. Que tinha que tratar, tomar cuidados, mas que a vida não podia nem devia parar por causa do vírus.
Um ano depois que fiquei viúva, fiz uma viagem com umas amigas para Porto Seguro. Todo mundo devia ir para a Bahia, quando descobre uma notícia ruim. Acabei conhecendo uma pessoa e tive um affair de férias.

Rolou insegurança. Era preciso negociar o uso de camisinha de cara. Não era o caso de contar [que é soropositiva]. Até porque ia ser coisa de alguns dias.

Percebi que existia sexo seguro, mas que era muito difícil de negociar. Eu consegui negociar.”

AMAR
“Veio o entendimento de que o HIV não tira sua sexualidade, nem o desejo. É uma doença, é um vírus, precisar cuidar dela como manda o figurino, mas a vida tem que ser levada adiante.

E quanto mais saudável e feliz é a sua vida, mais isso se reflete em benefícios para o corpo. E para o tratamento, por consequência.

Depois daquele affair nas férias, conheci outra pessoa na ONG e ficamos juntos dez anos. Ele também era soropositivo.
Tive um casamento instável novamente, mas sempre usando preservativo.

Agora, tenho relacionamento sorodiferente [quando apenas um dos parceiros é soropositivo]. Meu atual marido não tem HIV. Estamos juntos há seis anos. Nos conhecemos no meu trabalho numa mineradora, ele é jornalista desta área.

Um dia, ele me chamou para fazer uma visita a Sorocaba, a cidade em que moramos hoje. Pensei: ‘Como vou para a casa de uma pessoa que não sabe que tenho HIV?’

Decidi que ia contar antes de sair com ele, que já era próximo. Mandei por e-mail uma reportagem que eu tinha participado. Ele leu e respondeu: ‘Isso não muda nada. Vamos nos conhecer’.

Ele não teve medo. O que afasta é o medo. Teve muita conversa. Como ter uma relação segura? O que é o HIV? Como pega? Como não pega? Como se previne?

O melhor é como não pega: no contato social, no beijo, no abraço. Havia todos estes fantasmas. De não compartilhar utensílios, copos, talheres.
Eu já era ativista, lutava contra preconceitos e estigmas. Era outro momento da epidemia. Para ele, foi ficando muito tranquilo.

No começo, nós nos relacionávamos de camisinha. Hoje, podemos não usar preservativo com segurança. Existe a questão do i=i (indetectável é igual a intransmissível).

Quando você faz o tratamento há mais de seis meses e a sua carga viral fica indetectável, ela está tão reduzida no seu sangue que não está circulando mais. Então, não transmite.

A gente se apoia neste estudo e na minha carga viral indetectável para dispensar o preservativo. Há cinco anos, ele faz teste uma ou duas vezes por ano. 
E continuamos um casal sorodiferente.
É importante falar sobre isso. Tira o estigma. A minha parte do cuidado é a minha medicação. Manter a minha carga viral indetectável. A gente também precisa cuidar de outras ISTs (Infeções Sexualmente Transmissíveis). Estamos sempre fazendo exames.

Encarei com tranquilidade voltar a fazer sexo sem preservativo. Eu me seguro no meu autocuidado que também protege o outro.”

NÃO JULGAR NEM SE JULGAR
“Temos vários perfis de pessoas soropositivas. Temos aquelas que conseguiram incluir o tratamento na sua rotina e vivem normalmente.

Temos ainda pessoas que se infectam e sofrem muito. Têm autopreconceito.

Elas não conseguem aceitar o HIV, levam isso para a sociedade e recebem preconceito de volta. Neste caso, o tratamento é mais difícil. A mente e o emocional influenciam muito nosso corpo.

Têm aqueles com muito medo e pouca informação. Preferem não fazer exame nunca. Preferem morrer sem saber. É muito complicado.

E ainda aqueles que não têm medo e se expõem de uma forma que não seria necessária. Aquela coisa: ‘Não vai acontecer comigo’.

São pessoas que não conseguem enxergar a vulnerabilidade.

Para um homem heterossexual soropositivo tem uma questão profunda que é a masculinidade. O fato de alguém minimamente pensar que ele é gay é muito forte.

Para a mulher, vem o autojulgamento. O que é que eu fiz de errado? Por que transei? Por que não usei camisinha?

Infelizmente, ainda se dá uma conotação moral muito grande para a Aids. Não importa se você é uma mulher livre com vários parceiros, a vida é sua. Ou se você é homossexual, usuário de droga. Não temos o direito de julgar. É esse julgamento que causa dor.”

SE TRATAR

“Não desenvolvi nenhuma doença oportunista, porque ela se oportuna da falta de defesa. Sempre me tratei e estive atenta à minha saúde.

O momento mais crítico foi a descoberta do HIV e a perda do meu marido. Nessa época, eu tive uma anemia muito grande e uma sinusite que me impedia de respirar. Fiquei internada uma semana depois que ele morreu.

De lá pra cá, eu nunca mais tive nada. Me aposentei após 32 anos de trabalho. O tempo maior que fiquei afastada da empresa foram dois meses, porque eu quebrei o pé.

Fui muito respeitada no trabalho na Anglo American e me beneficiei de uma política de cuidados para com os funcionários soropositivos. São direitos que muitos ainda não conseguem acessar nem brigar por eles.

Aos 55 anos, eu me preocupo com coisas da idade como osteoporose, gordura, colesterol, triglicérides. Problemas que viriam para qualquer um, mas vêm de forma mais intensa e preocupante para quem usa antirretrovirais, como nós.

Quero envelhecer saudável. Rezo todos os dias para o medicamento anti-HIV não fazer mal. São tantos anos tomando drogas fortes. Espero que meu fígado e rim segurem mais um pouquinho. Quero viver mais uns 20.

Penso na cura da Aids, cada vez que vejo uma medicação nova, um transplante que dá resultado, possibilidades novas de tratamento.

Quiçá daqui a 20 anos tenhamos a cura. Se eu estiver aqui, vou ficar muito feliz. Se eu já tiver ido, vou ser grata, porque a vida me trouxe um aprendizado humano muito grande. Conheci pessoas especiais, entendi a dor delas. Aprendi a não julgar nem discriminar.

Tenho um leque de amigos gays. Aprendi a respeitar a transexualidade, entender que as pessoas podem fazer outras escolhas. A Aids me trouxe muito crescimento. Talvez eu não fosse tão humana como sou hoje se eu não tivesse passado pela herança do HIV.”

NÃO EDUCAR
“Eu decidir me expor como soropositiva, porque eu estava em uma empresa que me protegeu, me acolheu e não me demitiu. Isso foi fundamental.

A partir do momento em que virei ativista, fui entendendo que muito sofrimento era causado porque as pessoas ignoravam a própria vulnerabilidade, ignoravam a forma como o vírus era transmitido.

Eu sou uma mulher heterossexual, tive um único casamento, vinha de uma família estruturada e era soropositiva. Quantas outras não poderiam ser como eu?

Isso foi me levando a querer passar informação. ‘Olha, eu tinha um casamento estável. Não é só por estar casada que você vai estar protegida. Meu marido era um cara legal, ótimo pai, excelente companheiro, não era usuário de drogas e morreu de Aids.’  

Resolvi ter visibilidade para passar esse alerta. Caminhamos muito na tecnologia, nos exames, no tratamento, mas não evoluímos na educação sexual. Continuamos tratando a sexualidade como tabu.

Temos que falar abertamente de sexo seguro, autoconhecimento, machismo. Enquanto não se começar a resolver, de verdade, esses gaps, nunca vamos resolver a questão de prevenção como um todo.

Por favor, não venham proibir cartilha de educação sexual. Demoramos tanto para conseguir dizer: ‘Você tem um corpo, seja com vagina, seja com pênis, esse corpo precisa ser cuidado’.

É preciso entender que o desejo nasce e morre com a gente. Enquanto não se olhar para todas estas questões com naturalidade, sexo será sempre do outro. A doença será sempre do outro.”

Eliane Trindade
Editora do prêmio Empreendedor Social, editou a Revista da Folha. É autora de “As Meninas da Esquina”.


quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

12.2015 - Apps de paquera provocam alta nos casos de HIV entre jovens, adverte ONU

DA BBC BRASIL - 02/12/2015

O aumento no uso de aplicativos de paquera é um dos principais fatores responsáveis por uma nova epidemia de HIV entre jovens homens gays, aponta um estudo do Unicef (braço das Nações Unidas para infância e juventude).
O foco da nova pesquisa, divulgada nesta semana, é a região da Ásia-Pacífico, que inclui países como China, Japão, Indonésia e Tailândia, além de nações da Oceania.

A conclusão é que a região - que concentra metade do 1,2 bilhão de adolescentes do mundo - enfrenta uma "epidemia oculta" de HIV entre jovens de 15 a 19 anos. Houve 50 mil novos casos nessa faixa etária em 2014, o que representa 15% das infecções registradas na região no período.

Apenas nas Filipinas, os registros absolutos anuais passaram de 800 para 1.210 entre 2010 e 2014, um salto de mais de 50%.

O estudo de dois anos conclui que aplicativos de paquera para celular elevaram as opções de sexo casual em uma escala sem precedentes.

"A explosão de aplicativos de paquera gay para smartphones expandiu como nunca as opções para sexo espontâneo casual - usuários dos aplicativos móveis na mesma vizinhança (quando não na mesma rua) podem se localizar e marcar um encontro sexual imediato com apenas alguns toques na tela", afirma o relatório da pesquisa.

Embora as confirmações de HIV positivo estejam caindo no quadro geral, os índices vêm avançando entre segmentos específicos da população da região, como jovens homens gays, homens que se relacionam sexualmente com homens, jovens que fazem sexo por dinheiro, jovens usuários de drogas injetáveis e jovens transgênero.

A epidemia avança mais rápido - sobretudo em grandes cidades, como Bangcoc (Tailândia), Jacarta (Indonésia) e Hanói (Vietnã) - entre homens jovens que fazem sexo com homens e jovens usuários de drogas injetáveis. Segundo o Unicef, essa tendência coincide com um aumento no comportamento de risco, como envolvimento sexual com múltiplos parceiros e uso irregular de preservativos.

"Jovens homens gays nos afirmaram com frequência que agora estão usando aplicativos de paquera para encontros sexuais, e que estão tendo mais sexo casual em decorrência disso. Sabemos que esse tipo de comportamento de risco aumenta a disseminação do HIV", afirmou ao jornal britânico The Guardian Wing-Sie Cheng, consultor do Unicef para HIV/Aids no leste da Ásia e Pacífico.

Pressão e exclusão

"Eu era muito vulnerável ao HIV antes mesmo de fazer 18 anos. Era quando estava explorando minha sexualidade e buscando meios de lidar com a pressão da escola e das grandes expectativas da família. Também tinha depressão crônica, principalmente diante de frustrações românticas. Por causa disso, mantinha sexo sem proteção com diferentes garotos que mal conhecia e que encontrei por redes sociais na internet", afirmou ao estudo um rapaz filipino de 28 anos, identificado apenas como J.A.

A pesquisa reconhece que os setores mais vulneráveis a epidemia são também os mais marginalizados, não raro rejeitados pelas famílias e ignorados por serviços públicos de saúde e educação.

"Embora as circunstâncias sociais e econômicas possam variar, são jovens afetados pelas inseguranças emocionais da adolescência, como a expectativa de cumprir papeis de gênero e baixa autoestima (...). Jovens também costumam acreditar que não correm risco, mesmo considerando que outros com o mesmo comportamento estão em perigo", afirma o relatório.

Tecnologia como educação

O estudo do Unicef cita a possibilidade de usar aplicativos de paquera populares na região, como Jack'd, Blued e Grindr, para promover educação sexual e estimular, por exemplo, os exames para verificação da infecção por HIV entre a juventude ultraconectada.

Os indicadores de inclusão digital na região atestam o potencial da ideia: são 3,7 bilhões de conexões móveis, 1,4 bilhão de usuários ativos de internet e quase 1 bilhão de usuários de redes sociais em dispositivos móveis.

"Estamos convencidos de que existe uma relação (entre uso de aplicativos e aumento nos casos de HIV), e que precisamos trabalhar melhor com os provedores de aplicativos para compartilhar informação sobre HIV e proteger a saúde dos adolescentes", completou Cheng ao jornal britânico.

Mas a estratégia pode não ser eficaz, como disse ao The Guardian Jesse Krisintu, que trabalhou em projetos de incentivo ao teste de HIV em jovens por meio de táticas como anúncios de aplicativos de paquera.

Segundo ele, uma iniciativa que oferecia descontos em testes de HIV nesses anúncios teve retorno pífio - a maioria dos usuários fechava a publicidade imediatamente.

"É o negócio deles (dos sites de paquera). Se anunciarem muito sobre HIV e Aids você acha que as pessoas irão usá-los?", questionou.

Mortalidade

Outra conclusão da pesquisa é que adolescentes são mais vulneráveis a morrer de causas relacionadas à Aids, por causa de fatores como diagnóstico tardio e menor propensão a buscar tratamento, muitas vezes por temor de estigmatização ou de expor a sexualidade a familiares ou autoridades.

Pelo menos 18 países da região criminalizam as relações homossexuais, o que desencoraja homens gays a buscar tratamento, segundo a ONU.

Apenas no sul da Ásia, as mortes ligadas ao HIV entre pessoas de 10 a 19 anos quase quadruplicaram de 2001 a 2014: elas foram de 1,5 mil pra 5,3 mil. Para a Unicef, se a epidemia da síndrome entre adolescentes não for combatida, não será possível cumprir a meta da ONU de retirar, até 2030, a Aids da lista de ameaças globais à saúde pública.
Embora o estudo da Unicef não aborde o Brasil, dados oficiais mostram que a incidência de infecção por HIV está aumentando entre jovens de 15 a 24 anos.


Segundo o Ministério da Saúde, o índice por 100 mil habitantes passou de 9,6 em 2004 para 12,7 em 2013. Foram 4.414 novos jovens detectados com o vírus em 2013, ante 3.453 em 2004. 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Precisamos falar sobre POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA / HIV

(Imagem - Projeto Colabora)


"... em ambos os lugares, os remédios foram fracionados - a dose distribuída normalmente a uma pessoa foi dividida em duas, alcançando, assim, dois usuários dos remédios -, evitando que pessoas ficassem desassistidas..."



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"“Nesse velho armário novo eu não vou entrar, parcelado em dias de aflição”, canta o jovem Silvino, de 25 anos, na música Olhos Amarelos. Na composição, ele fala da decisão de não esconder o resultado positivo para o teste de HIV (vírus da imunodeficiência humana), que fez em 2016. Vinicius Silvino decidiu transformar seus sentimentos e medos em arte. E se engajou na luta pelo fim da discriminação contra pessoas vivendo com o vírus. 

"Agora, ele solta a sua voz para expor mais uma angústia das mais de 830 mil pessoas que fazem o tratamento de HIV/AIDS no Brasil: as falhas na distribuição de medicamentos. “Remédios que eu recebia em quantidade suficiente para dois meses, passaram a ser entregues para apenas um. Outros passaram a ter distribuição quinzenal. Isso nos coloca em constante apreensão e a alguns de nós, em risco”, alerta. ""



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“A falta de um remédio interfere diretamente na efetividade do tratamento, como explica o médico infectologista Cézar Pinheiro. "Se a pessoa tomar de maneira irregular ou faltar, tomar um pouco ou não tomar tem risco de fazer resistência e o tratamento não ser efetivo", detalha."




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“O Brasil está vivendo um dos piores momentos em relação à distribuição de antirretrovirais. Sempre falta em algum lugar. Estamos em um processo de retrocesso enorme, com uma ameaça muito grande à lei de acesso universal à distribuição de antirretrovirais“, diz ele. “A compra da metade do estoque (em junho) teve impacto direto nos serviços de saúde do Brasil todo. É um absurdo. O governo está brincando com a vida das pessoas”.
Salvador Côrrea, psicólogo com mestrado em Saúde Pública e porta-voz da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA). 



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= = = = = = = = = = = MARÇO 2018


Portadores de HIV enfrentam dificuldades para encontrar medicamentos no Rio
Medicamentos em falta custam cerca de R$3 mil. Em 2017, um problema de logística na distribuição dos produtos também prejudicou a entrega dos remédios no Rio.
Bom Dia Rio - 21/03/2018

Os pacientes portadores do vírus HIV relatam dificuldades para encontrar os medicamentos necessários para o tratamento da doença. Os remédios, que são distribuídos gratuitamente pela rede pública de saúde, estão em falta nas clínicas da Família e nos postos de saúde da cidade. Em 2017, um problema de logística também afetou a distribuição do medicamento.

De acordo com Maria Eduarda Aguiar, integrante da ONG ‘Pela Vidda’, esses remédios são importantes para evitar complicações na saúde dos pacientes.

“A falta dessa medicação e descontinuidade no tratamento gera prejuízos graves ao paciente. O paciente que fica sem esse medicamento por um dia ou dois pode fazer com que o vírus fique ainda mais resistente.", explica Maria.

O estado do Rio de Janeiro só administra a entrega dos remédios de HIV para os outros 91 municípios do estado. A distribuição na capital é feita diretamente entre prefeitura e Ministério da Saúde.

Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que todos os medicamentos para tratamento da Aids são fornecidos pelo Ministério da Saúde. A SMS disse ainda que houve uma irregularidade no abastecimento e algumas apresentações de certos medicamentos estão sendo substituídas temporariamente pelo Ministério da Saúde.

De acordo com a Secretaria, a substituição está sendo realizada pelos mesmos medicamentos com outra apresentação, o que não gera nenhum dano ao tratamento. Os pacientes que tiverem dúvida ou dificuldade na retirada da medicação devem procurar a direção da unidade ou seu médico para os devidos esclarecimentos.

O Ministério da Saúde esclarece que não há falta de medicamentos para o tratamento antirretroviral no país. Em relação ao medicamento Darunavir 600mg, o estoque do estado do Rio de Janeiro em março deste ano é de 423.530 comprimidos. O Ministério destaca que o consumo médio mensal (últimos 3 meses) é de 309.030 comprimidos para atender aos pacientes do Estado. Além disso, já está programada uma entrega de 100.020 comprimidos para a próxima semana.

https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/portadores-de-hiv-enfrentam-dificuldades-para-encontrar-medicamentos-no-rio.ghtml



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= = = = = = = = = = = JULHO 2018


Distribuição de medicamentos para Aids é normalizada em Porto Alegre
Suzy Scarton - Jornal do Comércio  - Julho.2018

Depois de um período de desabastecimento, a distribuição de medicamentos para HIV/Aids foi normalizada em Porto Alegre. A compra dos 37 tipos de remédios é centralizada no Ministério da Saúde, que faz o repasse aos estados, os quais ficam responsáveis pela redistribuição aos municípios. 

A reportagem do Jornal do Comércio percorreu quatro centros de saúde que distribuem o coquetel de drogas para a doença. No centro de saúde que fica dentro do Sanatório Partenon (avenida Bento Gonçalves, 3.722) e no Ambulatório de Dermatologia Sanitária (avenida João Pessoa, 1.327) foi registrada a falta de antirretrovirais, como o 3 em 1, composto por uma combinação de tenofovir, lamivudina e efavirenz,. 

No entanto, em ambos os lugares, os remédios foram fracionados - a dose distribuída normalmente a uma pessoa foi dividida em duas, alcançando, assim, dois usuários dos remédios -, evitando que pessoas ficassem desassistidas. No Centro de Saúde IAPI (rua 3 de abril, 90), não houve carência recente, embora os medicamentos "eventualmente faltem". 

O Centro de Saúde Santa Marta (rua Capitão Montanha, 27) se recusou a repassar informações, mas a reportagem testemunhou a entrega do medicamento 3 em 1 a um usuário. O JC não conseguiu contato com o Centro de Saúde Vila dos Comerciários (avenida Moab Caldas, 400, bairro Santa Tereza). O Conselho Municipal de Saúde, por meio da Comissão de DST/Aids, confirmou que a situação foi normalizada. No entanto, o problema existe e é recorrente no Estado. No final de junho, a Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa organizou uma audiência pública para debater o tema. 

A pauta foi o desabastecimento de antirretrovirais, essenciais a pelo menos 50 mil gaúchos com HIV. Na época, a própria Secretaria Estadual de Saúde (SES) admitiu que a provisão de três medicamentos - efavirenz, lamiduvina e biovir - era considerada crítica. "Vários medicamentos faltaram desde o começo do ano. Parece que, agora, está regularizado. Mas temos de ficar de olho, estamos brigando por essa regularização. Fizemos a audiência pública e, pelo visto, funcionou", comenta José Hélio Costalunga, integrante da Comissão de DST/Aids. 

Por nota, o Ministério da Saúde garantiu que não há falta de remédios para Aids em nenhum estado e que mantém as remessas dos 37 medicamentos, de forma a manter o abastecimento em dia. Afirma, no entanto, que desabastecimentos pontuais podem ocorrer, eventualmente, devido à complexidade do processo de compras e de distribuição. 

Também procurada, a SES corrobora o posicionamento da pasta federal de que pode ocorrer escassez pontual de algum item, mas garantiu que o ministério nunca interrompeu o envio de antirretrovirais. Em nível municipal, a Assistência Farmacêutica da prefeitura de Porto Alegre confirmou que houve problemas, na semana passada, com um medicamento, mas afirma que a situação foi resolvida e que não há desabastecimento no momento. 

Mesmo com queda, Estado ainda lidera ranking da doença A carência de medicamentos para HIV no Rio Grande do Sul preocupa não só pelo perigo e pela insegurança que causa aos diagnosticados, mas também pelo fato de que tanto o Estado como Porto Alegre lideram as estatísticas da doença no Brasil. Embora tenha havido uma queda nos índices nos últimos dez anos, o mais recente Boletim Epidemiológico de HIV/Aids do Ministério da Saúde, de março deste ano, mostra que, no ranking referente às taxas de detecção de Aids, Roraima e Rio Grande do Sul seguem apresentando as mais altas - 33,4 e 31,8 casos a cada 100 mil habitantes, respectivamente. O Acre tem a menor, de 8,7 casos. 

Entre as capitais, Porto Alegre desponta com uma taxa de 65,9 casos a cada 100 mil habitantes, mais que o dobro da do Estado e 3,6 vezes maior que a do Brasil (18,5 casos). A Capital também lidera o ranking de maior taxa de detecção entre gestantes, com 20 casos a cada mil nascidos vivos - 7,7 vezes maior que a taxa nacional e 2,2 vezes maior que a estadual. 

Mesmo com o ligeiro declínio, os números ainda assustam. Segundo o Ministério da Saúde, em 2006, o Rio Grande do Sul diagnosticou 4.237 novos casos. Em 2016, foram 3.584, uma queda de 15,5%. Já a taxa de detecção, em 2006, era de 38,6 casos a cada 100 mil habitantes. Em 2016, caiu para 31,8. Os dados de 2017 ainda não foram consolidados.  

(https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/geral/2018/07/639837-distribuicao-de-medicamentos-para-aids-e-normalizada-em-porto-alegre.html)




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= = = = = = = = = = = JULHO 2018

Problemas no abastecimento de medicamentos para HIV e Aids causam preocupação no Rio Grande do Sul
Pacientes enfrentam falta ocasional de algum dos componentes do tratamento na capital e no interior. Ministério da Saúde atribui a processo logístico de compra e distribuição.
Por G1 RS e RBS TV - 18/07/2018

Os pacientes com vírus HIV e com Aids do Rio Grande do Sul enfrentam uma situação difícil: o desabastecimento ocasional de alguns antirretrovirais, medicamentos necessários para o tratamento da doença crônica. A falta dos medicamentos não é generalizada: em Porto Alegre, por exemplo, pacientes reclamam que não encontram um dos tipos usados no tratamento, a lamivudina, nas farmácias do Posto IAPI, Santa Marta, Vila dos Comerciários e do Hospital de Clínicas, desde março.

Os medicamentos são repassados pelo Ministério da Saúde, e distribuídos para os municípios pela Secretaria de Saúde.

Em Santa Cruz do Sul, cidade distante cerca de 150 km de Porto Alegre, foi registrado o atraso de uma semana na entrega da lamivudina.

"Tem dez anos que eu tomo remédio. Isso aqui é tua vida, né? Então eu quero viver. Tem que ser certinho com o remédio pra eu viver", afirma outro paciente de HIV da cidade, onde cerca de 850 pessoas tratam a doença.

Em Pelotas, no Sul do estado, onde mais de 1,8 mil pessoas precisam realizar o tratamento contra o vírus, as listagem de pedidos enviadas pelo município não têm sido entregues por completo. Há remessas extras, que ajudam a suprir a necessidade, mas a situação causa preocupação nos médicos e pacientes.

"A distribuição não é regular, ela tem tido vários hiatos, vários períodos sem medicação. Ora sem um, ora sem o outro e isso compromete na realidade, a qualidade de vida do usuário", diz Eliédes de Freitas Ribeiro, diretora de Ações em Saúde, em Pelotas.

Um paciente de Pelotas, que não quis se identificar, conta que é frustrante não encontrar todos os remédios que precisa.

"Esse medicamento nos faz falta, porque é um medicamento de uso contínuo. Se a gente não tomar ele, baixa a imunidade da gente. Então a gente fica sempre assim, com os nervos à flor da pele", diz ele.

Problemas de saúde e desestímulo à adesão

A falta de um remédio interfere diretamente na efetividade do tratamento, como explica o médico infectologista Cézar Pinheiro. "Se a pessoa tomar de maneira irregular ou faltar, tomar um pouco ou não tomar tem risco de fazer resistência e o tratamento não ser efetivo", detalha.

A falta de remédios afeta também na adesão do paciente ao tratamento. Há relatos de municípios que disponibilizaram medicamentos para cinco dias, quando o padrão é a distribuição para todo o mês. Essa situação causa transtornos para o paciente, que pode acabar desestimulando-o o seguir com o tratamento.
"Em vez de a pessoa fazer a terapia completa, ela faz a terapia fracionada", explica o vice-presidente do Grupo de Apoio à Prevenção da AIDS (Gapa), Carlos Alberto Duarte. Segundo ele, para que o tratamento seja efetivo, o máximo que pode falhar na medicação é em torno de 5%. "Nessas falhas, o paciente acaba ficando um mês sem a medicação completa", diz.

A Secretaria Estadual de Saúde, por meio de nota, confirma que eventualmente acontecem faltas pontuais de algum dos 39 medicamentos antirretrovirais adquiridos pelo Ministério da Saúde e enviados ao estado. Mesmo assim, segundo a pasta, nunca houve o interrompimento total de envio ao estado.

Já o Ministério da Saúde afirma, também através de nota, que tem mantido as remessas de forma a garantir o abastecimento dos medicamentos em dia. Desabastecimentos pontuais, informa o ministério, podem ocorrer devido à complexidade do processo de compras e distriuição. Mesmo assim, não há repasse menor do que o número de pacientes que precisam de medicamentos, conclui a nota.

(https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2018/07/18/problemas-no-abastecimento-de-medicamentos-para-hiv-e-aids-causam-preocupacao-no-rio-grande-do-sul.ghtml)



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= = = = = = = = = = = OUTUBRO 2017

A angústia dos soropositivos na busca por medicamentos
Pessoas vivendo com HIV relatam aflição e riscos diante das últimas falhas na distribuição de remédios que fazem parte do coquetel contra a Aids
Projeto Colabora - Yuri Fernandes - 11 de outubro de 2017

“Nesse velho armário novo eu não vou entrar, parcelado em dias de aflição”, canta o jovem Silvino, de 25 anos, na música Olhos Amarelos. Na composição, ele fala da decisão de não esconder o resultado positivo para o teste de HIV (vírus da imunodeficiência humana), que fez em 2016. Vinicius Silvino decidiu transformar seus sentimentos e medos em arte. E se engajou na luta pelo fim da discriminação contra pessoas vivendo com o vírus. Agora, ele solta a sua voz para expor mais uma angústia das mais de 830 mil pessoas que fazem o tratamento de HIV/AIDS no Brasil: as falhas na distribuição de medicamentos. “Remédios que eu recebia em quantidade suficiente para dois meses, passaram a ser entregues para apenas um. Outros passaram a ter distribuição quinzenal. Isso nos coloca em constante apreensão e a alguns de nós, em risco”, alerta.

Atualmente, o SUS oferece, gratuitamente, 22 medicamentos para soropositivos – 12 deles produzidos no Brasil. Nos últimos meses, pelo menos 13 estados declararam problemas no estoque de antirretrovirais. “É muito triste tudo que está acontecendo. Os meses de julho e agosto foram um caos”, afirma Regina Bueno, advogada e defensora das causas de pessoas que vivem com HIV/Aids. Foi ela a quem o jovem Alex (nome fictício), carioca de 28 anos, recorreu quando se viu pela primeira vez sem ter o lamivudina (que faz parte do coquetel) para tomar. “Fiquei um dia sem. No mês passado, foi a mesma coisa. É complicado, não era para acontecer. Então, tenho medo do que possa ocorrer daqui pra frente”, lamenta o rapaz, que está em tratamento há mais de um ano.

Também foi a primeira vez, em quatro anos, que Guilherme (nome fictício), de 33 anos, foi em uma unidade de saúde atrás do seu coquetel e não encontrou um dos medicamentos. O fato aconteceu em setembro. “A atendente disse que o retornavir estava em falta, mas que os outros eu poderia levar. Era só assinar, ir embora e ficar retornando para ver quando o que estava faltando chegaria. Eu disse que aquilo era contra a lei e queria uma declaração por escrito do farmacêutico sobre a falta do remédio. No fim, conseguiram a medicação em um posto de saúde próximo”.

O fornecimento fracionado, com a entrega de pequenas quantidades de comprimidos e o pedido para que a pessoa volte em poucos dias para buscar o restante, também é completamente irregular, alerta a advogada Regina Bueno. “Isso é terminantemente proibido pela Anvisa, pelos conselhos de Farmácia e até mesmo pelo Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais”, diz. “Trata-se de uma doença crônica. Se a pessoa fica sem tomar um remédio, as consequências, muitas vezes, aparecem rapidamente, além de poder causar resistência viral. Cada organismo age de um jeito”, diz. “Como trabalhamos com jovens em rede, um ajuda o outro para que não deixe de tomar o medicamento, que é de uso contínuo e ininterrupto”.

Segundo Regina, no mês de junho, o Ministério da Saúde reduziu a compra de medicamentos “à metade do que geralmente é adquirido para o abastecimento nacional”.  A situação foi regularizada já no mês seguinte. 

No entanto, também houve falhas na distribuição dos remédios, como afirma Salvador Côrrea, psicólogo com mestrado em Saúde Pública e porta-voz da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA). 

“O Brasil está vivendo um dos piores momentos em relação à distribuição de antirretrovirais. Sempre falta em algum lugar. Estamos em um processo de retrocesso enorme, com uma ameaça muito grande à lei de acesso universal à distribuição de antirretrovirais“, diz ele. “A compra da metade do estoque (em junho) teve impacto direto nos serviços de saúde do Brasil todo. É um absurdo. O governo está brincando com a vida das pessoas”.

Em nota, o Ministério da Saúde afirma que “não há falta de medicamentos para AIDS no Rio de Janeiro e em nenhuma unidade da federação. Cabe esclarecer que o processo logístico da distribuição de antirretrovirais é compartilhado entre União e Estados. Compete ao Governo Federal adquirir todos os medicamentos antirretrovirais e distribuir para o almoxarifado dos estados. Esses, por sua vez, devem repassar às unidades de Saúde”.

O resultado disso é que pessoas vivendo com HIV, que já são obrigados a lutar diariamente contra o preconceito, têm redobrada sua carga de sofrimento. “Foi comprado remédio? Foi! Mas não o suficiente para que pudesse cobrir as falhas na logística da distribuição. Tenho atendido gente em completo desespero”, afirma Reinaldo R. Júnior, ativista e coordenador de eventos da Rede Jovem Rio +, voltada para soropositivos. 

“Quem tem HIV não pode esperar”, reforça Salvador Corrêa, autor do livro “O Segundo Armário: Diário de um Jovem Soropositivo”.  “Estamos falando de uma doença, de uma situação que pode levar à morte. A vida tem que estar em primeiro lugar, acima de qualquer outro interesse”, finaliza.

Em meio à discriminação, aos retrocessos e à angústia e medo gerados pelos últimos problemas na distribuição de medicamentos, Silvino, o cantor citado no início da reportagem, segue fazendo da sua história inspiração para quem, como ele, carrega o vírus: “Expor a sorologia é um ato de coragem? É. Mas também é um ato de oportunidade, percebe? Você não é só um vírus. Você é um corpo social, que está inserido em determinada situação. A questão que fica é: não falar sobre HIV/AIDS e permanecer alimentando esse monstro social prejudica só a quem vive com o vírus? Para mim, parece que atrasa a sociedade como um todo”.

(https://projetocolabora.com.br/saude/escassez-de-medicamentos-contra-o-hiv/)

domingo, 2 de dezembro de 2018

Deu Positivo, e Agora?

O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) lançou nesse sábado (1) a plataforma online Deu Positivo, e Agora? (deupositivoeagora.org), um site que reúne informações sobre HIV em linguagem atualizada, clara, acessível, com foco em jovens que acabaram de receber diagnóstico positivo para o HIV. A iniciativa conta com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Comunicação (Unesco).
O objetivo é mostrar que o tratamento, quando iniciado precocemente e seguido de forma adequada garante melhor qualidade de vida à pessoa. Estudos científicos já comprovaram que a adesão ao tratamento antirretroviral leva as pessoas vivendo com HIV à redução da carga viral no organismo, alcançando um nível chamado de “indetectável”. Com a carga viral indetectável, o HIV deixa de ser transmitido a outras pessoas—conhecido pela expressão “indetectável = intransmissível”, o que coloca o tratamento antirretroviral como um dos diversos métodos da Prevenção Combinada.
“A gente percebeu que as pessoas, quando recebem o diagnóstico positivo para o HIV, geralmente correm para a internet para buscar informação. Só que percebemos também que, na internet, há muita desinformação”, explica Georgiana Braga-Orillard, Diretora do Unaids no Brasil. “A ideia do projeto é suprir essa necessidade de informação sobre HIV. Que as pessoas possam chegar e encontrar, em um só lugar, informações que sejam de qualidade, acolhedoras e de uma forma que seja também leve.”
Além de incentivar a adesão ao tratamento antirretroviral, os materiais reunidos no site têm o objetivo de mostrar que é possível viver com HIV e ser saudável, ter relacionamentos, ter filhos, exercer seus direitos, entre tantos outros pontos. É também mostrar que o diagnóstico positivo para HIV pode ser um novo começo de vida, com uma nova mentalidade, novas conquistas e aprendizados.
O número de casos de aids entre jovens de 15 a 24 anos tem crescido nos últimos dez anos: as taxa de detecção de casos de AIDS entre jovens do sexo masculino nesta faixa etária mais que dobraram em uma década: 3 para 7 casos por 100 mil habitantes (15 a 19 anos) e de 15,6 para 36,2 casos por 100 mil habitantes (20 a 24 anos)—os dados são do Boletim Epidemiológico de HIV 2018, divulgado pelo Ministério da Saúde. Entre mulheres, as taxas têm mostrado uma tendência de queda em quase todas as faixas etárias.
O Brasil hoje tem uma das maiores coberturas de tratamento antirretroviral entre os países de renda média e baixa. Apesar disso, a adesão ao tratamento disponível gratuitamente pelo SUS ainda é um desafio. Das pessoas estimadas vivendo com HIV no país, 84% já fizeram o teste de HIV; destas, 75% estão em tratamento para o HIV; e, dentro deste grupo de pessoas em tratamento, cerca de 92% apresentam carga viral indetectável.
Mesmo com toda a estrutura e medicamentos disponíveis, há um número importante de quase 200 mil de pessoas diagnosticadas com HIV e que, por diversos motivos, não se encontram em tratamento. Os jovens vivendo com HIV estão entre os que apresentam os menores níveis de adesão ao tratamento antirretroviral. A plataforma Deu Positivo, e Agora? surge como uma resposta a deste desafio e busca engajar os jovens oferecendo informações corretas sobre HIV, em linguagem acessível e  livre de estigma e discriminação.
Além de 12 vídeos com informações essenciais sobre HIV (tratamento, relacionamentos sorodiferentes, filhos, prevenção, direitos, entre outros), o site conta com materiais adicionais como gráficos, resumos dos vídeos, histórias de vida e referências para outros sites oficiais. Participam do projeto influenciadores digitais e pessoas que vivem ou convivem com HIV engajadas como ativistas na área de prevenção e sensibilização sobre a epidemia no Brasil.

Entendendo a relação do jovem com o HIV

Esta mesma geração que tem sido mais fortemente afetada pela epidemia é também aquela que hoje busca e recebe informações de forma mais frequente na internet. Uma pesquisa realizada pelo grupo Credit Suisse com jovens brasileiros de 16 a 25 anos (Credit Suisse Youth Barometer, 2014) apontou que, para 93% deles, a internet é muito importante, e que, além disso, 63% deles passam mais de duas horas por dia online.
Outro dado relevante é o fato de que, cada vez mais, as pessoas têm acessado a internet para buscar informações sobre a saúde. Uma pesquisa feita pela seguradora de saúde Bupa, em 2011, a Bupa Health Pulse, constatou que 86% dos brasileiros com acesso à Internet utilizam a rede para buscar orientações sobre saúde, remédios e condições médicas.  A pesquisa mostra, que destes 86%, 68% buscam, online, informações sobre medicamentos, 45% buscam informações sobre hospitais e 41% buscam conhecer, na Internet, experiências de outros pacientes com determinado problema de saúde. Contudo, um dado preocupante é que  somente um quarto das pessoas verifica as fontes das informações.
Fonte: ONU

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