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domingo, 18 de agosto de 2019

Viver e amar com HIV há 25 anos: 'O vírus não mata o desejo'

Eliane Trindade para FSP, 16.07.19

Consultora e ativista, Silvia Almeida relata sua trajetória de mulher soropositiva na luta contra o estigma da Aids

Ela aprendeu a viver com HIV. E a amar, a não julgar e a encarar a epidemia de Aids sem grandes dramas.

Há 25 anos, Silvia Almeida foi diagnosticada com o vírus. Em 1997, seu marido e pai de seus dois filhos, então com 14 e 4 anos, morria de Aids.

A então viúva transformou a herança maldita em luta e aprendizado.

Silvia fez mais do que sobreviver aos preconceitos, estigmas e medos que cercam a doença que afeta mais 860 mil brasileiros e 37 milhões de pessoas no mundo.

A hoje consultora da Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/ Aids) e integrante do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas lista sete lições de sua longa e inspiradora trajetória de mulher soropositiva.

“Eu tenho 55 anos. Descobri que sou soropositiva aos 30 anos. São 25 anos desde o diagnóstico. Daqui a pouco eu vou ter mais idade com HIV do que sem.”
Não se trata de “sobrevida”, palavra que ela detesta, usada no começo da epidemia quando Aids era sentença de morte.

“É vida, com qualidade e em plenitude”, diz. Silvia se considera saudável, portadora de uma doença crônica e sob controle, graças aos avanços da ciência.

Condições que lhe permitiram trabalhar até se aposentar por tempo de serviço, casar novamente, retomar a vida sexual sem riscos, curtir filhos e netos. Tudo isso com a certeza de que tem ainda muito para viver.

ACEITAR
“Meu marido morreu de Aids. Ele foi diagnosticado já doente, esse era o grande problema. Devia ter muito tempo de HIV.

Estava desenvolvendo Aids [teve uma série de doenças oportunistas em razão da perda do sistema imunológico e faleceu em decorrência de uma tuberculose] e partiu em dois anos. 

Recebi o resultado do meu teste em abril de 1994.  Tinha certeza de que ia ser positivo, apesar de não estar doente. Não usava camisinha. Ele estava doente, ia estar infectada também. Em um casamento de 14 anos, não se usa preservativo.

Era o começo da epidemia entre as mulheres, a gente começava a descobrir o que era uma transmissão sexual, que não existia grupo de riscos.

Todos estávamos vulneráveis. Mudavam os conceitos da epidemia.

Minha angústia foi esperar o resultado do exame do meu filho, que tinha um ano. A minha preocupação era com ele, de transmissão vertical [de mãe para filho]. Para meu grande alívio, ele não se infectou.

Eu tive parto normal, quando a criança tem contato com o seu sangue na hora do nascimento. Amamentei. Fiz tudo errado, porque eu não sabia.

Hoje, você tem exames e protocolos que testam antes e durante a gravidez; na hora do parto. Se são seguidos nenhuma criança precisa mais ser infectada. Penso que não era para meu filho ter HIV. Sou espiritualizada, acredito em destinos.

Eu resolvi que primeiro eu ia entender o HIV, aprender a viver com o vírus para depois poder falar sobre isso. Ao passo que fui melhorando, fazendo tratamento, ficando bem, sem aquele drama, aquele medo, consegui ir contando para os meus filhos e familiares.

Quando fui contar, levei para eles tranquilidade pela forma como eu já lidava com o HIV.

Faço tratamento? Faço. Tem cura? Não tem. Estou conseguindo viver apesar de tudo? Estou. Estou feliz? Estou. Estou saudável? Estou. Tudo isso faz diferença.

Quando você dá uma notícia ruim sem ter um mínimo de resolução, é muito complicado. Quando apresenta um problema que está sendo resolvido, é diferente.”

NÃO CRIMINALIZAR
“Acho muito doloroso pegar alguém que você amou e dividiu sua vida e criminalizar essa pessoa.  

Ela pode não saber, como pode saber, que é soropositivo.  Pode confiar que não vai infectar o parceiro. Pode não contar por necessidade de ter alguém, por medo da solidão e da rejeição.

Enfim, o ser humano é muito diverso. Dentro dessa diversidade, você encontra de tudo. Pessoas fortes, como eu, que já chegam no primeiro encontro e diz que tem HIV. Mas tem pessoas que nunca vão conseguir contar.

A notícia cai como uma bomba dentro de casa. Fica aquela pergunta: Onde erramos? O que aconteceu? De onde veio? Por que veio?
Sinceramente, são perguntas sem respostas. 

Quando perguntei para meu marido o que tinha acontecido, ele me olhou e disse: ‘Eu não sei. Estou tão perdido quanto você’.
Ali, senti o que era o HIV e o que era Aids. As pessoas se infectam porque são vulneráveis.

Essa vulnerabilidade vem da nossa forma de viver a sexualidade. Muitas vezes o homem é criado nesse padrão machista que dava direito a ele de ter um caso extraconjugal.

Conheci muitas mulheres que se separaram, que odiaram seus companheiros, quando descobriram terem sido infectadas por eles.

Não consegui odiar o homem que eu amava. Consegui enxergar nele uma vítima, assim como eu. Ele não ia ver nossos filhos crescerem. Ele não conheceu os netos.

Ninguém infecta ninguém porque quer e muito menos infecta sabendo que a pessoa ia sofrer tudo que a Aids causava naquele momento. 

Querer saber quem te infectou ou culpar a pessoa tem muito a ver com a não aceitação. De colocar no outro a responsabilidade que é sua.

Se olharmos para trás, há 30 anos, quem tinha consciê ncia de HIV, do uso de preservativo?

Hoje pode-se cobrar mais. Cobrar o uso de preservativo, de relação desprotegida. O teste está aí, é rápido. Tem muito mais informação.” 

VIVER
“Logo depois do diagnóstico, comecei a procurar alguma coisa que me ensinasse a viver com o HIV. Acabei conhecendo o GIV (Grupo de Incentivo à Vida). Ao frequentar as reuniões, aquilo foi tomando uma proporção grande. Via quantas mulheres sofriam, quantas pessoas eram despedidas de seus empregos. Era muito estigmatizante.

Fui aprendendo o quanto a gente não sabia nada, o quanto as pessoas sofriam por conta deste não saber.

Fui retomando minha vida conforme entendia o HIV. Que tinha que tratar, tomar cuidados, mas que a vida não podia nem devia parar por causa do vírus.
Um ano depois que fiquei viúva, fiz uma viagem com umas amigas para Porto Seguro. Todo mundo devia ir para a Bahia, quando descobre uma notícia ruim. Acabei conhecendo uma pessoa e tive um affair de férias.

Rolou insegurança. Era preciso negociar o uso de camisinha de cara. Não era o caso de contar [que é soropositiva]. Até porque ia ser coisa de alguns dias.

Percebi que existia sexo seguro, mas que era muito difícil de negociar. Eu consegui negociar.”

AMAR
“Veio o entendimento de que o HIV não tira sua sexualidade, nem o desejo. É uma doença, é um vírus, precisar cuidar dela como manda o figurino, mas a vida tem que ser levada adiante.

E quanto mais saudável e feliz é a sua vida, mais isso se reflete em benefícios para o corpo. E para o tratamento, por consequência.

Depois daquele affair nas férias, conheci outra pessoa na ONG e ficamos juntos dez anos. Ele também era soropositivo.
Tive um casamento instável novamente, mas sempre usando preservativo.

Agora, tenho relacionamento sorodiferente [quando apenas um dos parceiros é soropositivo]. Meu atual marido não tem HIV. Estamos juntos há seis anos. Nos conhecemos no meu trabalho numa mineradora, ele é jornalista desta área.

Um dia, ele me chamou para fazer uma visita a Sorocaba, a cidade em que moramos hoje. Pensei: ‘Como vou para a casa de uma pessoa que não sabe que tenho HIV?’

Decidi que ia contar antes de sair com ele, que já era próximo. Mandei por e-mail uma reportagem que eu tinha participado. Ele leu e respondeu: ‘Isso não muda nada. Vamos nos conhecer’.

Ele não teve medo. O que afasta é o medo. Teve muita conversa. Como ter uma relação segura? O que é o HIV? Como pega? Como não pega? Como se previne?

O melhor é como não pega: no contato social, no beijo, no abraço. Havia todos estes fantasmas. De não compartilhar utensílios, copos, talheres.
Eu já era ativista, lutava contra preconceitos e estigmas. Era outro momento da epidemia. Para ele, foi ficando muito tranquilo.

No começo, nós nos relacionávamos de camisinha. Hoje, podemos não usar preservativo com segurança. Existe a questão do i=i (indetectável é igual a intransmissível).

Quando você faz o tratamento há mais de seis meses e a sua carga viral fica indetectável, ela está tão reduzida no seu sangue que não está circulando mais. Então, não transmite.

A gente se apoia neste estudo e na minha carga viral indetectável para dispensar o preservativo. Há cinco anos, ele faz teste uma ou duas vezes por ano. 
E continuamos um casal sorodiferente.
É importante falar sobre isso. Tira o estigma. A minha parte do cuidado é a minha medicação. Manter a minha carga viral indetectável. A gente também precisa cuidar de outras ISTs (Infeções Sexualmente Transmissíveis). Estamos sempre fazendo exames.

Encarei com tranquilidade voltar a fazer sexo sem preservativo. Eu me seguro no meu autocuidado que também protege o outro.”

NÃO JULGAR NEM SE JULGAR
“Temos vários perfis de pessoas soropositivas. Temos aquelas que conseguiram incluir o tratamento na sua rotina e vivem normalmente.

Temos ainda pessoas que se infectam e sofrem muito. Têm autopreconceito.

Elas não conseguem aceitar o HIV, levam isso para a sociedade e recebem preconceito de volta. Neste caso, o tratamento é mais difícil. A mente e o emocional influenciam muito nosso corpo.

Têm aqueles com muito medo e pouca informação. Preferem não fazer exame nunca. Preferem morrer sem saber. É muito complicado.

E ainda aqueles que não têm medo e se expõem de uma forma que não seria necessária. Aquela coisa: ‘Não vai acontecer comigo’.

São pessoas que não conseguem enxergar a vulnerabilidade.

Para um homem heterossexual soropositivo tem uma questão profunda que é a masculinidade. O fato de alguém minimamente pensar que ele é gay é muito forte.

Para a mulher, vem o autojulgamento. O que é que eu fiz de errado? Por que transei? Por que não usei camisinha?

Infelizmente, ainda se dá uma conotação moral muito grande para a Aids. Não importa se você é uma mulher livre com vários parceiros, a vida é sua. Ou se você é homossexual, usuário de droga. Não temos o direito de julgar. É esse julgamento que causa dor.”

SE TRATAR

“Não desenvolvi nenhuma doença oportunista, porque ela se oportuna da falta de defesa. Sempre me tratei e estive atenta à minha saúde.

O momento mais crítico foi a descoberta do HIV e a perda do meu marido. Nessa época, eu tive uma anemia muito grande e uma sinusite que me impedia de respirar. Fiquei internada uma semana depois que ele morreu.

De lá pra cá, eu nunca mais tive nada. Me aposentei após 32 anos de trabalho. O tempo maior que fiquei afastada da empresa foram dois meses, porque eu quebrei o pé.

Fui muito respeitada no trabalho na Anglo American e me beneficiei de uma política de cuidados para com os funcionários soropositivos. São direitos que muitos ainda não conseguem acessar nem brigar por eles.

Aos 55 anos, eu me preocupo com coisas da idade como osteoporose, gordura, colesterol, triglicérides. Problemas que viriam para qualquer um, mas vêm de forma mais intensa e preocupante para quem usa antirretrovirais, como nós.

Quero envelhecer saudável. Rezo todos os dias para o medicamento anti-HIV não fazer mal. São tantos anos tomando drogas fortes. Espero que meu fígado e rim segurem mais um pouquinho. Quero viver mais uns 20.

Penso na cura da Aids, cada vez que vejo uma medicação nova, um transplante que dá resultado, possibilidades novas de tratamento.

Quiçá daqui a 20 anos tenhamos a cura. Se eu estiver aqui, vou ficar muito feliz. Se eu já tiver ido, vou ser grata, porque a vida me trouxe um aprendizado humano muito grande. Conheci pessoas especiais, entendi a dor delas. Aprendi a não julgar nem discriminar.

Tenho um leque de amigos gays. Aprendi a respeitar a transexualidade, entender que as pessoas podem fazer outras escolhas. A Aids me trouxe muito crescimento. Talvez eu não fosse tão humana como sou hoje se eu não tivesse passado pela herança do HIV.”

NÃO EDUCAR
“Eu decidir me expor como soropositiva, porque eu estava em uma empresa que me protegeu, me acolheu e não me demitiu. Isso foi fundamental.

A partir do momento em que virei ativista, fui entendendo que muito sofrimento era causado porque as pessoas ignoravam a própria vulnerabilidade, ignoravam a forma como o vírus era transmitido.

Eu sou uma mulher heterossexual, tive um único casamento, vinha de uma família estruturada e era soropositiva. Quantas outras não poderiam ser como eu?

Isso foi me levando a querer passar informação. ‘Olha, eu tinha um casamento estável. Não é só por estar casada que você vai estar protegida. Meu marido era um cara legal, ótimo pai, excelente companheiro, não era usuário de drogas e morreu de Aids.’  

Resolvi ter visibilidade para passar esse alerta. Caminhamos muito na tecnologia, nos exames, no tratamento, mas não evoluímos na educação sexual. Continuamos tratando a sexualidade como tabu.

Temos que falar abertamente de sexo seguro, autoconhecimento, machismo. Enquanto não se começar a resolver, de verdade, esses gaps, nunca vamos resolver a questão de prevenção como um todo.

Por favor, não venham proibir cartilha de educação sexual. Demoramos tanto para conseguir dizer: ‘Você tem um corpo, seja com vagina, seja com pênis, esse corpo precisa ser cuidado’.

É preciso entender que o desejo nasce e morre com a gente. Enquanto não se olhar para todas estas questões com naturalidade, sexo será sempre do outro. A doença será sempre do outro.”

Eliane Trindade
Editora do prêmio Empreendedor Social, editou a Revista da Folha. É autora de “As Meninas da Esquina”.


quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

12.2015 - Apps de paquera provocam alta nos casos de HIV entre jovens, adverte ONU

DA BBC BRASIL - 02/12/2015

O aumento no uso de aplicativos de paquera é um dos principais fatores responsáveis por uma nova epidemia de HIV entre jovens homens gays, aponta um estudo do Unicef (braço das Nações Unidas para infância e juventude).
O foco da nova pesquisa, divulgada nesta semana, é a região da Ásia-Pacífico, que inclui países como China, Japão, Indonésia e Tailândia, além de nações da Oceania.

A conclusão é que a região - que concentra metade do 1,2 bilhão de adolescentes do mundo - enfrenta uma "epidemia oculta" de HIV entre jovens de 15 a 19 anos. Houve 50 mil novos casos nessa faixa etária em 2014, o que representa 15% das infecções registradas na região no período.

Apenas nas Filipinas, os registros absolutos anuais passaram de 800 para 1.210 entre 2010 e 2014, um salto de mais de 50%.

O estudo de dois anos conclui que aplicativos de paquera para celular elevaram as opções de sexo casual em uma escala sem precedentes.

"A explosão de aplicativos de paquera gay para smartphones expandiu como nunca as opções para sexo espontâneo casual - usuários dos aplicativos móveis na mesma vizinhança (quando não na mesma rua) podem se localizar e marcar um encontro sexual imediato com apenas alguns toques na tela", afirma o relatório da pesquisa.

Embora as confirmações de HIV positivo estejam caindo no quadro geral, os índices vêm avançando entre segmentos específicos da população da região, como jovens homens gays, homens que se relacionam sexualmente com homens, jovens que fazem sexo por dinheiro, jovens usuários de drogas injetáveis e jovens transgênero.

A epidemia avança mais rápido - sobretudo em grandes cidades, como Bangcoc (Tailândia), Jacarta (Indonésia) e Hanói (Vietnã) - entre homens jovens que fazem sexo com homens e jovens usuários de drogas injetáveis. Segundo o Unicef, essa tendência coincide com um aumento no comportamento de risco, como envolvimento sexual com múltiplos parceiros e uso irregular de preservativos.

"Jovens homens gays nos afirmaram com frequência que agora estão usando aplicativos de paquera para encontros sexuais, e que estão tendo mais sexo casual em decorrência disso. Sabemos que esse tipo de comportamento de risco aumenta a disseminação do HIV", afirmou ao jornal britânico The Guardian Wing-Sie Cheng, consultor do Unicef para HIV/Aids no leste da Ásia e Pacífico.

Pressão e exclusão

"Eu era muito vulnerável ao HIV antes mesmo de fazer 18 anos. Era quando estava explorando minha sexualidade e buscando meios de lidar com a pressão da escola e das grandes expectativas da família. Também tinha depressão crônica, principalmente diante de frustrações românticas. Por causa disso, mantinha sexo sem proteção com diferentes garotos que mal conhecia e que encontrei por redes sociais na internet", afirmou ao estudo um rapaz filipino de 28 anos, identificado apenas como J.A.

A pesquisa reconhece que os setores mais vulneráveis a epidemia são também os mais marginalizados, não raro rejeitados pelas famílias e ignorados por serviços públicos de saúde e educação.

"Embora as circunstâncias sociais e econômicas possam variar, são jovens afetados pelas inseguranças emocionais da adolescência, como a expectativa de cumprir papeis de gênero e baixa autoestima (...). Jovens também costumam acreditar que não correm risco, mesmo considerando que outros com o mesmo comportamento estão em perigo", afirma o relatório.

Tecnologia como educação

O estudo do Unicef cita a possibilidade de usar aplicativos de paquera populares na região, como Jack'd, Blued e Grindr, para promover educação sexual e estimular, por exemplo, os exames para verificação da infecção por HIV entre a juventude ultraconectada.

Os indicadores de inclusão digital na região atestam o potencial da ideia: são 3,7 bilhões de conexões móveis, 1,4 bilhão de usuários ativos de internet e quase 1 bilhão de usuários de redes sociais em dispositivos móveis.

"Estamos convencidos de que existe uma relação (entre uso de aplicativos e aumento nos casos de HIV), e que precisamos trabalhar melhor com os provedores de aplicativos para compartilhar informação sobre HIV e proteger a saúde dos adolescentes", completou Cheng ao jornal britânico.

Mas a estratégia pode não ser eficaz, como disse ao The Guardian Jesse Krisintu, que trabalhou em projetos de incentivo ao teste de HIV em jovens por meio de táticas como anúncios de aplicativos de paquera.

Segundo ele, uma iniciativa que oferecia descontos em testes de HIV nesses anúncios teve retorno pífio - a maioria dos usuários fechava a publicidade imediatamente.

"É o negócio deles (dos sites de paquera). Se anunciarem muito sobre HIV e Aids você acha que as pessoas irão usá-los?", questionou.

Mortalidade

Outra conclusão da pesquisa é que adolescentes são mais vulneráveis a morrer de causas relacionadas à Aids, por causa de fatores como diagnóstico tardio e menor propensão a buscar tratamento, muitas vezes por temor de estigmatização ou de expor a sexualidade a familiares ou autoridades.

Pelo menos 18 países da região criminalizam as relações homossexuais, o que desencoraja homens gays a buscar tratamento, segundo a ONU.

Apenas no sul da Ásia, as mortes ligadas ao HIV entre pessoas de 10 a 19 anos quase quadruplicaram de 2001 a 2014: elas foram de 1,5 mil pra 5,3 mil. Para a Unicef, se a epidemia da síndrome entre adolescentes não for combatida, não será possível cumprir a meta da ONU de retirar, até 2030, a Aids da lista de ameaças globais à saúde pública.
Embora o estudo da Unicef não aborde o Brasil, dados oficiais mostram que a incidência de infecção por HIV está aumentando entre jovens de 15 a 24 anos.


Segundo o Ministério da Saúde, o índice por 100 mil habitantes passou de 9,6 em 2004 para 12,7 em 2013. Foram 4.414 novos jovens detectados com o vírus em 2013, ante 3.453 em 2004. 

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Suruba na Puberdade

Mariliz Pereira Jorge - FSP, 22.11.2018
A banalização do sexo e as suas consequências chegaram à sala das famílias abastadas

Aviso: a coluna é sobre sexo na adolescência. Se você não está preparado para encarar a vida como ela é, por favor, pule para o próximo texto. Vou contar o que os adolescentes fazem enquanto deputados tentam proibir o ensino do tema nas escolas.

Meninos e meninas de 12, 13 anos, promovem festinhas na sala das casas dos pais, onde rolam sessões de “dedadas”. Garotas com saias e shortinhos são manipuladas por quem e por quantos elas estiverem a fim. Tem mais, faz-se uma fila de garotos num sofá ou encostados nas paredes e elas são penetradas um por um. Suruba na puberdade.

Os relatos são de pais de estudantes de escolas de classe média alta paulistana, horrorizados por não saber como lidar com algo que é encarado como natural entre seus filhos, e que era visto como problema de classes sociais menos favorecidas.

Não é novidade que menores frequentam o funk em favelas cariocas e paulistas, bebem, usam drogas, transam sem proteção e com vários parceiros. A banalização do sexo e as suas consequências chegaram à sala das famílias abastadas.

Tanto presidente eleito quanto alguns parlamentares acham que sexo tem que ser ensinado só dentro de casa. Em que mundo eles vivem? Uma pesquisa da Bayer mostrou que 41% das jovens entre 15 e 26 anos não conversam com os pais sobre o assunto. A realidade deve ser pior entre os mais jovens, por uma única razão. A maioria das famílias não sabe e não está preparada para falar de sexo. Nunca esteve.

E agora alguns gênios, hipócritas, querem amordaçar os professores e piorar o que já é grave. Adolescentes brincam de “dedada”, de revezamento de penetração, transam sem camisinha, engravidam, se contaminam (o número de DSTs só aumenta), são abusados, porque idiotas acham que masturbação, como já disse uma deputada, é um tema inapropriado nessa fase da vida. Inapropriado é tapar o sol com a peneira.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marilizpereirajorge/2018/11/suruba-na-puberdade.shtml

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